segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

nada chega

Há noites em que não chegam todos os chocolates do mundo para afastar o frio que por dentro gela. Queima as ideias, como se de colheitas se tratasse, faz encolher os ombros e a vontade, faz enrijecer as articulações e perder o equilíbrio. O frio deste género não mata, mas mói que se farta. Porque já choveu, porque já arrefeceu, porque já se gastaram os agasalhos e os aquecedores vão perdendo o gás.
Apetece desatar a correr para aquecer, fugir daqui para fora e só parar num abraço, ainda que morno.
Já não chega o calor que a memória guardou, já não chega a temperatura que os sonhos escondem em embalagens herméticas a utilizar em casos de emergência. Já não chega.
Não há gomas, alperces secos, pipocas ou batatas fritas que arrastem este inverno daqui.

losing skills

"And I'm shaking then I'm still
When your eyes meet mine
I lose simple skills
Like to tell you all I want is now"

Snow Patrol, 2008

domingo, 13 de dezembro de 2009

ai fado, ai fado

"People tell me it's a sin
To know and feel too much within.
I still believe she was my twin, but I lost the ring.
She was born in spring, but I was born too late
Blame it on a simple twist of fate."

Bob Dylan, 1974

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

on my mind #6

Há partes de mim que constituem um puzzle que não tinha imagem nas instruções.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

onde?

para onde se vai quando de cai de um sonho abaixo? Quem apanha os restos? Quem os vai entregar ao familiar mais próximo?
Quando os sonhos acabam e vão lá para onde os sonhos moram, fica sempre alguma coisa esquecida, tal como num quarto de hotel, onde sobra sempre uma meia, uma escova ou uma camisa de dormir, perdidos em locais que a mala de viagem não arrecadou e deixa como rasto do que se viveu ali.
Também nos sonhos é assim, o que resta é o que guardamos, o que recordamos. Por vezes as partes boas, outras vezes as más, depende da maneira como terminam os sonhos e chegam as realidades cruas. Depende da velocidade com que caímos dali abaixo. A voar ou aos trambolhões, cair implica quase sempre descer, mesmo que se volte a subir de seguida, para não ganhar medo. O medo que nos afasta de tentar, tentar de novo ou tentar outra vez, mesmo que magoados, mesmo que doridos ou muito sofridos. O medo que nos impede de arriscar, de poder cair outra vez, mas de outra maneira. O medo que não nos deixa aprender e voltar subir, voltar a sonhar.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

on my mind #5

Preferia não me lembrar de ti quando são outras mãos que eu toco.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

regatear

Encontrei algo que me pertencia, algo que já senti, algo que já foi meu. Como posso eu pedi-lo de volta, como posso eu provar que já foi meu, que já senti, que o perdi nem sei bem porquê?! Como posso apresentar provas de que há coisas que me saíram bem do fundo, do mais longe que conheço de mim?!
Não posso, posso apenas implorar, dizer que conheço alguns sinais e marcas de vacinas, ou até cicatrizes que deixaram marcas onde o tempo não passou. Posso dizer que te sinto, que os meus braços e o meu coração anunciam a tua chegada, mesmo antes de apareceres, que se fosse um cão, abanava a cauda, que a minha pele se arrepia com a lembrança do teu nome.
Quero voltar à casa partida, e mesmo sem ganhar dois contos, ir directa para a prisão onde te encontrarei e de onde não vou desejar sair até que respires o mesmo ar do que eu. Tenho ar a mais à minha volta, tanto ar que me sinto sufocada.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

dão-se alvíssaras

Não sei que fazer com o que sobra das emoções que tive de ir deixando pelo caminho ao longo dos tempos. Sobraram-me alguns bocadinhos de sorrisos atrevidos, sorrisos espontâneos e tantas vezes inconscientes, daqueles que se pregam à cara sem darmos por isso e só nos largam ao cair da primeira lágrima, que leva no caminho descendente até ao queixo, o sorriso que nos lábios morava.
Guardei os restos de abraços que ficaram por dar, ou de alguns apertados a correr, como se o tempo não chegasse para mais ou houvesse alguém entre nós . Tenho uma embalagem de carinhos que não cheguei a dar, mãos que não cheguei a apertar, orelhas em que não mexi e até lábios que não beijei o suficiente, ou tanto quanto queria. Também tenho beijos que dei, mas que queria devolver, que não me faziam falta, que dei por dar, porque estava ali, tal como quando compramos uns sapatos e sabemos à partida que dificilmente vamos voltar a usar e que, mais dificilmente ainda, nos iriam fazer felizes.
Restam-me ainda alguns olhares comprometedores, desviados um segundo antes de serem flagrados, mais uns quantos, gastos de tanto serem usados, de tanto permanecerem em cena.
No entanto há muitas outras coisas que gostava de recuperar, coisas que fui deixando por aí e não consegui guardar nem os restos. Às vezes por querer fugir, outras por ficar tempo demais e perder o rasto ao que, depressa demais, ia passando à minha volta.
Gostava de ser racional com as emoções, como sou com o economato, e ter tudo guardado e organizado, mas há restos que foram ficando sempre em gavetas erradas, há coisas que tive de deixar a meio, no inicio ou até antes mesmo de começarem, e nessas alturas não há disposição para catalogar, para arquivar como deve ser o que sobra. E agora reconheço que algumas delas me faziam falta, e queria encontrá-las algures no mercado negro, em segunda mão, que seja.
Alguns cheiros que me remetem para longe, que me fazem fechar os olhos de prazer e lembrança, numa tentativa de os trazer para perto de mim outra vez, um ou outro par de pés quentes, que me fazem lembrar que o Inverno está mesmo a chegar e que isto de dormir destapada a noite inteira, ainda assim, chegou a meados de Outubro.
Era bom que alguém me encontrasse tudo isto, que estará algures entre Portugal e o resto do mundo, algures entre o chão e a nuvem mais próxima. Alguém que me fizesse lembrar o que as palavras nunca dizem, o que os braços não agarram, mas que o coração dificilmente esquece. Porque quando alguém tem de sair mais cedo, normalmente não assiste ao melhor da festa.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

a diferença

A arte é alimentada de criatividade, imaginação e inspiração, que por sua vez são alimentadas de emoção e uma pequena parte de razão. Se assim não for, não é arte, é artesanato. É o que distingue um quadro de Paula Rêgo e uma cadeira de verga, e no entanto, ambas são peças únicas e igualmente feitas à mão.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

a arte

Há quem diga que não está disponível para amar, para gostar, para se entregar. Há quem diga que não consegue fazê-lo, que não encontra ninguém que lhe faça perder as noites e a razão. Há quem pense que já não é possível que o amor ou a paixão lhe surjam na vida porque já viram tudo e já sentiram o que tinham a sentir. Há quem diga que já não precisa de sentir mais nada e que já gastou o que tinha dentro de si. Há quem diga que as emoções são fáceis de controlar, são fáceis de dirigir, de conduzir, de parar, acelerar ou mantê-las em suspenso até que seja mais oportuno. Há quem diga que não precisa de ninguém para que as emoções façam sentido. Há quem diga que entregar-se é gastar demasiado tempo e energia que pode canalizar para coisas mais importantes. Há quem diga simplesmente que não, sem pensar porquê, sem pensar que tudo o que recebe de volta quando deixa, quando se entrega, quando arrisca, é muito mais compensador do que toda a energia que poupa em não o fazer. A energia anímica, o bem-estar, a alegria e principalmente o sorriso, não gastam o tempo de um cigarro e não provocam doenças.

E depois há quem diga que tudo isto é uma arte, a de fugir.

Fugir de si, fugir do que sente e do que pode ter, ser, sentir e sorrir. Fugir de ser muito mais, de estar muito mais, de querer muito mais. Sem perder o que quer que seja. Ao contrário da carteira, nas emoções, é no gastar que está o ganho.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

facto #5




Quando se corre contra o vento não se consegue chorar decentemente.




(photo: ???)

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

aprendi aos bocadinhos

Aprendi que a dor à noite dói mais. Aprendi que os namorados das minhas amigas são muitas vezes para elas o melhor, mas nem sempre o melhor para elas; aprendi a gastar menos tempo em discussões que não levam a lado nenhum; aprendi a fazer hoje o que me apetece fazer hoje e não esperar por um outro dia que seja mais oportuno; aprendi a relativizar a importância dos problemas; aprendi que para conseguir uma carreira é quase sempre preciso uma paragem; aprendi que só o que provoca emoções vale realmente a pena; aprendi que as paixões não se adiam; aprendi que por vezes uma palavra basta para fazer sorrir alguém, e não custa nada; aprendi que o meu telemóvel devia bloquear ao quarto copo de vinho, ou ao terceiro de vodka; aprendi que os animais me ensinam mais sobre o amor que muitas palavras; aprendi que nada é garantido na vida; aprendi que sentada, a vida não vem ter comigo, mas que preciso de me sentar aos poucos para a continuar a viver.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

aqui.

(photos:miss green)
Já aqui estive no dia 2/02/02, lembro-me que estava triste e desmoralizada como não tinha memória de estar. Tinha acabado de perder um trabalho que algumas horas antes me tinham dito que era meu. Enfim, mais tarde revelou-se ter sido uma bênção essa perda, revelou-se uma sorte não ter ganho o lugar.
Hoje, mais de sete anos depois, e embora a minha vida não tenha mudado substancialmente, estive aqui, neste mesmo sítio a 9/09/09.
Pelo meio foram muitas as vezes que aqui estive, ora á procura de respostas, ora á procura de um local onde, com a calma que me transmite, me deixasse questionar. Já aqui vim á procura de nada, apenas de estar comigo. Já aqui vim para chorar. Já aqui trouxe algumas das pessoas mais importantes da minha vida. Já aqui respirei o amor, já aqui beijei a paixão, já aqui abracei a saudade.
E não me cansa, o sítio, a vista incomparável sobre a cidade que de facto amo, a energia, a calma...e por vezes o vento. Descansa-me como se entrasse num mundo paralelo onde não me conseguissem tocar e nada me conseguisse fazer doer. Marca-me sempre vir aqui, marca-me sempre este cheiro, estas cores de Lisboa, este ar. De dia ou de noite, feliz, triste, de sorriso em riste ou no fundo do poço, muitas foram as palavras que levei deste silêncio, desta Paz. A Senhora (do Monte) já fez muito mais por mim do que alguma vez Imaginará. Já me Ouviu, já me Olhou, já me Questionou, já me Respondeu e já me Limpou lágrimas que por vezes pareciam não ter fim. No entanto, sempre o têm, há sempre um fim, que também é um início ou reinício. Um ponto final parágrafo e vira a página, ou apenas uma vírgula.
Tudo aqui, algumas vezes em breves momentos, algumas outras em horas não contadas, mas marcadas pelos sinos das igrejas que não sei distinguir. Só eles dizem que o tempo aqui também passa, porque comigo ele pára e afasta-se da realidade, que recomeça no momento em que a chave do carro roda na ignição e tudo volta ao seu ritmo, ao seu jeito de ser, real e finito como todos os outros tempos, como todas as outras realidades. Aqui.

sou mascarada


Máscaras (ou caraças como hoje me disseram) são na maioria das vezes representativas do Teatro, mas não só. São a representação da nossa própria vida, ora infeliz ou feliz, ora certo ou errado, quente ou frio, bom ou mau...opostos, os pontos de referência que temos de ter para conseguirmos dar valor e aproveitarmos o que temos e o que somos. Por vezes é nas grandes diferenças que reside a proximidade. As máscaras defendem-nos, protegem-nos, tanto quanto nos escondem, mas não apagam o que está por trás delas próprias:a nossa essência, o nosso Ser, neste palco q é a VIDA!
(photos:miss green)

domingo, 23 de agosto de 2009

de certeza que há

Há palavras que descrevem muito melhor aquilo que eu sinto, há poemas em que tudo seria dito em quatro meias linhas, há livros em que bastaria o título da capa, o sub-título, até a lombada seria mais que suficiente, mas aqui, por mais espaço que tenha, por mais palavras de que disponha, não tenho palavras, não tenho jeito ou não sei dizer, escrever, aquilo que me passa pelas veias, ou lá por onde passam as coisas que se sentem e que chegam ao resto do corpo. Não tenho, não sei dizer, não passa pela transcrição para o papel ou para onde quer que o virtual o leve, o que sinto, o que me estão a fazer sentir ou a pensar , ou sequer a sonhar. Se alguém as tiver que me as faça chegar se fizer esse pequeno favor. Bem-haja

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Há pessoas.

Há cheiros.

Há vazios.


Há momentos.

Há sorrisos.

Há tu.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

on my mind #2

Tenho um nome a pingar na cabeça, deve ser uma torneira mal fechada.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

facto #4





Angústia é uma coisa que vem do estômago até à boca e que por vezes sai pelos olhos.





(photo:???)

terça-feira, 28 de julho de 2009

quarta-feira, 22 de julho de 2009

espera

Não é à tua espera que eu estou. Já me perdi na horas e nos dias em esperas quase sempre inúteis. Já esperei palavras e pessoas que nunca chegaram ou chegaram tarde, nunca apareceram, alguns nem existiram.
Hoje já não espero apenas palavras, espero acções, já não espero pessoas, espero emoções, sentimentos.
Aflige-me ser demasiado fiel ao que sinto e não me disponibilizar para receber mais. Fico à espera de repetições, de continuações, como se de um guião se tratasse. Mas não dás as deixas, nesta história que podia ser um filme alternativo que ainda não estreou.
Não é à tua espera que eu estou, mas és tu que me fazes sentir aquilo que eu espero.

domingo, 12 de julho de 2009

facto #3





Nas cadeiras do tempo espero, mas não descanso.



(photo:miss green)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

nos dias em que não existes

Como é que se consegue ser tão intensamente presente e tão "distantemente" ausente?
Quase tenho medo de saber e conhecer mais para não descobrir que és feito do mesmo material que os sonhos, que só existem quando estão connosco, na nossa almofada.
O tempo passa, mas a almofada, a mesma dos sonhos, parece querer recordar-te, e à noite atira-me à cara o cheiro, nem bom nem mau, mas que é o teu. Atira-me à cara o que me fazes pensar e sentir, e por fim, atira-me à cara que ainda assim eu tenho de dormir, que não estás aqui. Depois chega a realidade e eu entrego-me contrariada.
Quando não estás ao alcance de um olhar, pareces viver num mundo paralelo, onde não há rede nem televisão por cabo, de onde só se sai com aviso de despejo e prescrição médica. Esfumam-se as ideias, tal como o calor que por aqui ficou e, embora não me canse de olhar em volta, tu não estás lá, nunca chegas, nunca dizes. Chegam os dias de frio e tu não respondes, não aqueces, não existes.
Os sonhos ultimamente têm cheiro, têm cor, têm forma, têm o calor de dois corpos que não precisam de descolar para adormecer. É tudo o que sobra para os dias em que não estás, os dias em que insistes em não existir.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

quando não há palavras

Quando não há palavras há um lugar vazio que a distância não ocupa. Há uma dor que se vai amolgando com o tempo, que se desvanece, mas que marca, que turva olhar e não deixa ver mais além. Quando não há palavras o tempo parece mais longo, tem paragens, teima em arrastar-se ao longo do caminho.
O espaço que deixámos vazio para as palavras se cruzarem vai criando raízes, ervas daninhas que não se deixam arrancar. E é assim, devagar, como crescem as ervas que não são regadas, que se vai preenchendo até deixar de ser um lugar vazio, sem vida. Passará a ser terra cultivada à força, só para não cairmos ao tentar saltar, altura em que voar resolveria quase tudo. No ar não existem “pedras no caminho”, rasteiras ou degraus mais disfarçados. Não há trânsito nem insultos descabidos, não há falta de estacionamento e podemos encostar em qualquer lugar.
A terra parece, por vezes, ocupada demais, viva demais, congestionada demais, movimentada demais. O ar tem mais espaço e é por ele que tantas vezes voam as palavras que não são ditas, que não são escritas.
As palavras voam, e algumas vezes não chegam a descer, é vulgar por isso, apanharmos ideias assim, no ar. E quando andamos com a “cabeça no ar” estaremos provavelmente a tentar vermo-nos livre delas...ou à procura delas.

terça-feira, 26 de maio de 2009

onde dormem os sonhos?

Onde ficam os meus sonhos quando acordo de manhã? Quem os guarda até eu voltar a deitar-me, até voltar a chamar por eles? Os sonhos devem ser uma espécie de filhos independentes que durante o dia vão à vida deles e voltam já à noitinha, naquela última hora em que estamos sentados no sofá a olhar para ontem. Aí chegam eles, fresquinhos, como se não tivessem andado a palmilhar o dia inteiro, como se não ficassem hora a fio a olhar um computador e a desejar a hora de chegar a casa. Chegam para se deitarem connosco, para ocuparem algum lugar vazio, o lugar da companhia que não está, não chega, não o é.
Aninham-se em nós como se nunca tivessem saído dali, como se fosse um episódio com continuação, numa história que não acaba nunca, só mudam as personagens e os cenários.
Onde vão dormir os meus sonhos quando se levantam? Os sonhos esperam sempre que eu me deite, nunca lá estão quando eu chego, nunca adormecem à minha espera. Os sonhos chegam sempre a tempo, mesmo que não tenham relógio. Os sonhos não me deixam antes de acordar, e por vezes até são interrompidos abruptamente sem querer. Eles fazem-me rir, chorar, fazem-me estar onde nunca fui, fazem-me ser o que nunca pensei ser, ter o que nunca tive, ou tive mas não dei atenção, e principalmente, sentir o que não sinto quando estou acordada. Os sonhos mimam-me de tal maneira que chego a pensar que têm braços, que têm coração, que têm cinco sentidos como eu. Mas se têm tudo isto, onde se escondem durante todo o tempo que não estão comigo a fazer-me…sonhar?