quarta-feira, 10 de dezembro de 2003

NÃO HÁ PACIÊNCIA

Invariavelmente me irrita continuar, ao longo dos anos, a ler nas mais diversas listas de pratos de restaurante, vulgarmente chamadas de menú, a expressão mais disparatada e ainda por cima, ultrapassada, que é: "Fruta da época".
Gggggrrrrrrrrr!!!
Mas o que vem a ser isto afinal?! Além de ter de decidir o que vou eleger para terminar a minha refeição, ainda tenho de fazer uma ginástica mental para, quem diria, associar um fruto à época do ano em que estamos. Ou seja, antes de ter o meu leque de escolha, tenho de pensar em que época do ano estou e que frutos se dão por ora. Ou até, aceder à memória e pensar se foi um Inverno muito humido ou um Verão demasiado seco, onde, afinal, os morangos atrasaram a colheita, e por consequência a sua época, este ano, não será a mesma do transacto.
Por estes tempos, convenhamos que valia ainda a pena descriminar que "fruta da época" será. Podemos antever o dia em que já deviamos ler "fruta da época em Espanha" ou até "fruta da época na África do Sul". Aí sim, o desafio ao raciocínio seria já considerável. Isto numa altura em que grande parte da fruta consumida no nosso país, é importada.
Não seria, por ventura, mais simples, escrever 4 ou 5 palavras, mesmo se mudassem todos os dias?!...digo eu.
Já nem vou falar no eterno "Doce da casa", que obriga sempre a uma consulta antecipada do empregado de mesa..."Olhe, desculpe, pode dizer-me, por favor, se não se importa, qual é o Doce da casa?...Obrigada, desculpe!"

terça-feira, 11 de novembro de 2003

Afinal ainda há heróis!

Muitas foram, são, e pelo andar da carruagem, continuarão a ser as cada vez mais vulgares desistências dos nossos desportistas.
Praticam modalidades como a ginástica, atletismo, ciclismo, vela, esgrima, hipismo, natação e tantas outras nas quais, Portugal foi já medalhado, distinguido, galardoado, enfim...Campeão.
Quem não que conhece esses desportistas?! Quem é que já os viu na televisão, ou em destaque em algum dos 3 (três) jornais desportivos diários portugueses?! Estou a falar de 7 edições por semana, ou seja, ronda os 365 dias por ano, tal qual o calendário.
Quantas primeiras páginas deram principal destaque a alguma destas modalidades?!
Não tenho nada contra o futebol, antes pelo contrário, mas não acredito que seja preciso manter as 365 páginas principais dedicadas a uma única modalidade! Temos muito desporto em Portugal, embora não pareça.
Além de quantidade, podemos até descobrir que temos também muita qualidade, embora ainda menos pareça.
Várias destas modalidades não massificadas, correm o permanente risco de ter de acabar em alguns dos clubes. Obviamente por falta de verbas. Não há patrocínios.
Claro que não há patrocínios, qual seria a marca ou empresa que arriscaria um investimento que à partida já sabe que não terá visibilidade?!
Por consequência óbvia, o desporto torna-se uma carreira muito pouco aliciante para um jovem de 17 anos que infelizmente - esta a mais grave das razões (a meu ver) - tem de decidir entre um curso superior ou uma carreira desportiva, isto já depois de ter reclamado durante grande parte do liceu por datas especiais para testes e exames, entregas de trabalhos e afins, situações que estão contempladas na nossa legislação, mas muito poucas vezes são cumpridas. O facto de representar uma selecção nacional nem no liceu continua a ter muita importância.
Alguns a muito custo conseguiram, outros nem tentaram. Frequentar um curso superior e continuar a treinar, implica uma "ginástica" viável para poucos.
Gustavo Lima é um dos mais recentes exemplos.
Foi campeão do mundo de vela há bem pouco tempo. Foi 2 ou 3 vezes a programas de televisão, todos eles dedicados a desporto ou informação.
Quem é que o viu? Quem é que sabe onde ele nasceu, qual a marca que o veste, qual o seu patrocinador?!
Abdicou dos estudos no fim do liceu e hoje é uma das nossas glórias. Arriscou, mas até chegar aqui passaram já alguns anos e mesmo com óptimas classificações, não teve patrocínio mas sim um " Paitrocínio", já que foi o seu pai que lhe deu a possibilidade de continuar a tentar e chegar tão longe.
Ele é com certeza hoje, um dos grandes trunfos para Portugal puder ser o palco da Taça América, um dos maiores eventos desportivos mundiais e com enorme retorno nas mais diversas áreas.
Nuno Merino é ginasta de Trampolins, e foi já no mês passado apurado para os Jogos Olí­mpicos de Atenas. Quantas pessoas souberam disto?! Numa modalidade gímnica em que Portugal já teve quase todos os títulos possíveis em competição, incluindo também o campeonato do mundo, ele é outro óptimo exemplo.
Sim, é uma modalidade amadora, mas são estes grandes amadores, como tantos outros que não teria tempo para distinguir, que levam o nome do nosso paí­s aos pódios mais altos, onde se ouvem os hinos, onde o nome do nosso país se torna mais forte, onde nos passam (muitas vezes) a conhecer, onde em pouco mais de 2 minutos o nosso Portugal deixa de ser o resto da Europa.
Este são os nossos heróis, não têm capa nem espada, e continuam por amor à camisola...que tiveram de comprar!

quarta-feira, 6 de agosto de 2003

Alvalade XXI inaugurou.

Alvalade XXI inaugurou.
Torna-se complicado explicar tudo isto a alguém que nunca viveu este tipo de alegrias, tristezas e todo um rol de emoções que se chegam a confundir. Desde que me lembro de existir que o Sporting faz parte da minha vida. Cresci a praticar desporto e aquele não foi o meu clube de praticante única e exclusivamente por razões geográficas ou logísticas. Há 25 anos atrás o Lumiar não tinha tantos acessos e eu do alto dos meus 4 anos ainda não tinha grande independência para me deslocar sozinha dentro da cidade. Desporto, exceptuando ginástica, sempre teve o mesmo nome para mim: SPORTING.
Desde cedo aprendi o significado de vestir a camisola e lutar, sofrer, sorrir e gritar pelas minhas cores. Desde cedo frequentei o estádio em alegres peregrinações com o meu pai, para sentir in loco o calor, o animo e adrenalina de um jogo ao vivo. Nessa altura, para mim, o estádio José de Alvalade era gigantesco e a ideia que tenho era de estar sempre cheio. A pista de atletismo era verde e não havia cadeiras de plástico, mas sim as bancadas em cimento, onde até há pouco tempo assentavam as cadeiras verdes. Para os 90 minutos serem mais confortáveis, usavam-se pequenas almofadas que se dobravam e tinham uma mola a fechar.
Recordo como uma das maiores alegrias desportivas que vivi até hoje, não contando com as pessoais, o dia em que o Sporting decidiu o Campeonato Nacional de 81/82. Mezaros era o nosso guarda-redes e saiu já em cuecas de campo, depois de uma pequena invasão de adeptos. Sporting 7 - Rio Ave 1. Jordão fazia as delícias dos adeptos nessa época com
os seus frequentes golos. Ainda bem que lá estive nessa altura, depois desse título foram 18 anos de jejum, com os quais ainda hoje não me conformo.
Formamos parte da equipa campeã mundial de juniores, formamos alguns dos, ainda hoje, melhores jogadores portugueses e do mundo. Por Alvalade passaram alguns dos maiores valores do desporto nacional que vai do Atletismo, ao Hóquei em patins, ao Andebol, passando pelo hipismo, ginástica e tantas outras que elevaram o nome do clube e do país aos patamares mais altos das classificações, aos pódiuns mais importantes deste mundo desportivo.
Por todos eles também a nossa bandeira cresceu, também o verde ficou mais vivo e tornou o Sporting um dos maiores clubes. Ontem, ao entrar no estádio ALVALADE XXI pela primeira vez, tudo isto me passou pela cabeça. As bancadas estavam vazias, o campo estava vazio. Não havia ainda artistas para o espectáculo que naquele palco só começaria dali
a 24h. A configuração nova do estádio dá a sensação de estarmos na bancada a abraçar o relvado, é tudo muito envolvente. Em alguns dos momentos iniciais não foi possível dizer quase nada. Fiquei só a sentir, só a assistir.
A energia que têm estes locais onde o mais importante são as emoções é inexplicável, mesmo que ainda não tenha sido estreado. Tenho pena de não assistir ao vivo à festa de inauguração, mas aqueles curtos momentos na véspera ajudaram a tornar menos penoso assistir pela televisão. Mas foi muito bonito na mesma. Arrepiei-me toda, os meus olhos quase transbordaram. Já são muitos anos a viver tudo isto. Muitas emoções.
Dulce Pontes cantou e encantou a abertura oficial, todos nós também temos um pouco dela na voz. Pelo menos daquelas palavras.
Não resta muito mais para dizer a quem não está no calor destes 52 mil lugares. O jogo com o Manchester United continua, mas este resultado pouco importa. Os jogos, as competições, os atletas, os dirigentes e empregados que realmente importaram têm muitos nomes, as mais diversas modalidades, secções e funções, os mais diferentes credos e cores, mas tiveram um só resultado: ALVALADE XXI, nasceu hoje para gáudio de todos aqueles que o sonharam.



P.S - É impossível explicar tudo isto a alguém que nunca esteve envolvido em algo do género. Peço desculpa.
E já agora...o SPORTING venceu o Manchester United por 3-1. PARABÉNS, começaram bem!