terça-feira, 5 de abril de 2005

Apelo inevitável

É um apelo que sai destas teclas hoje. Se bem que já o devia ter feito, paciência, mais vale tarde que nunca, e alguém tem de o fazer.
Tinha de haver uma mulher que escrevesse e fosse também à televisão, à rádio, aos bares deste país, fazer um apelo plo bem do stand-up feminino.
E isto não tem a ver com feminismo, nem pedir igualdade, nem nada disso.
Bolas, uma mulher quando decide fazer stand-up, mesmo antes de começar, antes de subir ao palco, seja ele de que género for, já está a ser renegada!
O primeiro comentário na generalidade é logo: “ eeeehhh porra.....uma gaja!”
Se o público tivesse um comando, mesmo a assistir ao vivo, andava logo com aquilo para a frente, porque há sempre o segundo comentário: “ fogo, se ainda fosse uma gaja boa...ao menos!”
É que ainda por cima há mulheres tão boas a fazer stand-up em Portugal.
A Elsa Raposo, por exemplo, é boa...e diz que faz stand-up que é uma maravilha, a qualquer um, sem ser preciso dizer nada, é tipo mímica, é um mimo a Elsinha. A Lili Caneças, já foi boa...há muitos anos e também é outra grande comediante portuguesa que até diz que “estar vivo é o contrário de estar morto”. É engraçado porque eu nunca tinha pensado nisto. Tem lógica. Vivo.. morto... pois tá claro! Ou a nossa grande Odete Santos, também é boa...comediante! A Revista à portuguesa é comédia, certo? A Revista à polaca, por exemplo, já não...
Voltando ao stand-up comedy...
Até as mulheres a assistir são beras para as mulheres no palco. As mulheres não gostam que as outras mulheres falem das suas coisas, das nossas coisas. Das nossas ideias, das nossas manias ou truques e ainda por cima fazer disso graça.
Começam logo a pensar: “fogo, está pra aqui esta gaja a desvendar coisas que escondemos durante séculos”
Minhas queridas, eles não percebem na mesma! É indiferente a versão, já se fez drama, tragédia, comédia, tudo....e eles passaram a perceber alguma coisa de nós, as mulheres?? Passaram?? Não, pois claro...
Minhas queridas estamos a falar de um Ser para o qual uma das maiores dúvidas sobre as mulheres...- o que é, onde está, etc, etc - é sobre uma coisa que normalmente têm debaixo da língua!
Ora, se eles são assim, acham que é o stand-up que vai desvendar –lhes o que quer que seja? Eles não conseguem mesmo...
E depois há as asneiras. Enquanto um homem pode dizer um chorrilho de asneiras e ainda por cima ter aí o ponto alto da graça, nós não, não podemos.
As mulheres nem uma asneirinha podem dizer...é logo “eeehhh brejeira, arruaceira, baixo nível”
Mas isto é só por não conhecerem, por não estarem habituados, por não aceitarem.
Aqui há uns anos, para quem se lembra, havia uma rapariga muito jeitosa que tinha uma actividade qualquer esotérica, ou coisa que o valha, e que num anúncio na televisão apelava ao espectador deste modo: “ Não renegue à partida uma ciência que desconhece”, com o stand-up feminino é mesmo caneco, não reneguem, deixem-se de coisas que o stand-up é para os gajos! Viva as gajas, viva as mulheres, queimem-se lá esses soutiens, queremos fazer stand-up! Bem-haja as mulheres e a mais o stand-up.

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