Acho muito desagradável esta situação em que alguns dirigentes andam metidos. É desagradável para eles, para o futebol e para os restantes. Uma pessoa não gosta de ser escutada, não gosta que se lhe ouçam as ideias assim por vias travessas. É que isto já não são conversas, são conferências, pois é como se estivesse o país todo a ouvir, embora com delay de alguns anos, porque isto é gente que ouve muito mal. Só alguns anos depois e quando isto já está tudo em tribunal é que “se ouviu qualquer coisa”.
No fundo, é como as vizinhas, só quando ouvem que alguém se vai separar é que se lembram que ouviram discussões todas as noites e loiça a partir-se constantemente, mas na altura pensaram que era dos armários serem estreitos. De repente sabem de tudo e ele tratava-a muito mal.
No futebol é mais ou menos assim, as coisas acontecem, não se percebe bem porquê, alguém faz queixa, anos depois pegam no processo e vai-se a ver alguém tinha ligado a alguém a convidar para jantar e depois de jantar umas amigas de uns amigos meus lá vão ajudar alguém a ter uma alegria que a esposa já não lhe dá, e é isto, de repente alguém viu, ouviu e sabe que alguém foi tendencioso a custo de alguns momentos bem passados e de alguns cheques igualmente passados.
Na minha rua há uma senhora que está o dia todo à janela. Vê toda a gente a entrar e a sair de casa, com quem chegam, com quem saem. Ela é uma escuta de bairro, é outra dimensão, mas para os pequenos casos, este tipo de escuta também é importante. A minha vizinha do segundo andar costuma andar de camisa de dormir para ir levar o lixo á rua, tudo bem que não é um babydoll, mas para todos os efeitos pode ser considerado provocação, e se ela for violada quem é que lhe pode valer, a escuta da vizinha que estava ali, à janela e viu tudo.
No futebol, como na vida, as escutas salvam uns e acusam outros, agora todos os dias temos conversas novas para ouvir, trocas de árbitros e favores, discussões e opiniões que não interessam a ninguém. O futebol não vai nada bem, dizem, mas a vida também não vai bem, vai para alguns meses que não tenho uma conversa decente ao telefone, daquelas que acabam sempre com alguns termos em espanhol, aquele espanhol que se aprende na televisão.
sexta-feira, 15 de setembro de 2006
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