Um amor que é descontinuado não é um amor que acaba, é um amor que passou de moda, que se deixou de usar, que não foi renovado. Tal qual os modelos dos automóveis que descontinuam para aparecer no mercado uma versão nova, ou uma que a vem substituir. Com linhas mais modernas, funções que o anterior não tinha ou nem existiam na altura em que foi lançado. Assim é o amor descontinuado. Precisava de funções novas, de uns estofos mais confortáveis, de um motor mais forte. Alturas haverá em que nos lembramos dele, porque nunca nos deixou ficar mal, porque nunca foi preciso chamar o reboque, porque não tinha um risco, tinha idade é certo, mas estava tão bem conservado. Nessas alturas já não o temos, já foi vendido, já está a fazer as curvas de outras mãos, também elas sedentas de emoção, e afinal ele estava óptimo e o preço convencia qualquer um.
O amor descontinuado pode voltar a ser amor, pode voltar numa ou duas versões mais recentes, depois de ter estado nas mãos atentas de profissionais que sabem muito bem o que fazer para melhorar um modelo. Dão-lhe peças para fazer novas manobras, dão-lhe ideias para que todos os dias pareça diferente conduzi-lo. E conduzir um amor tem tanto que se lhe diga. Para conduzir um amor é preciso dois condutores que alternam na posição de co-piloto. Nenhum automóvel consegue ser conduzido por dois ao mesmo tempo, tal como também não sai do sítio se ambos forem a consultar o mapa. Nenhum amor continua se a ideia for ficar parado, assim como está, ainda que seja bom agora, daqui a um tempo já não vai ser, e é preciso manter o nível do óleo, conferir as pastilhas, regular as rotações.
Quando um amor descontinuado volta já nunca é o mesmo, há sempre alguém que aprendeu mais, viveu mais, aproveitou mais e principalmente, cresceu mais. O amor que é descontinuado pode voltar a ser bom, ou muito melhor, mas tem de haver um acerto de velocidades que é instantâneo ou morre ali. Normalmente só um dos condutores é que precisa de uma nova versão.
Um amor descontinuado, tal como um automóvel, precisa de revisão. Se for bem feita pode ficar aí para as curvas, senão, ficará sempre a ser em segunda mão, usado e gasto.
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
terça-feira, 21 de setembro de 2010
ser a 2ª escolha
Não acredito no desprestígio de ser uma segunda escolha, de não ter sido o primeiro nome a sair da cartola, da tola, ou até da lista de contactos. O primeiro nome nem sempre é o mais acertado. Que atire a primeira pedra ou o que tiver à mão, quem acertou sempre nas primeiras escolhas que fez na vida. As primeiras calças de ganga nunca foram as preferidas, as namoradas ou namorados que estão no topo cronológico, desceram certamente ao fundo da tabela da qualidade. Para quê então esta sede de conseguir ter a primeira escolha? De nada servirá que tenha estado no cimo da lista no dia em que as derrotas chegarem, que chegam, chegam sempre, e nesse dia será o pior do mundo, como todos os outros que ficaram fora do pódio mais alto. De nada serve ter sido o primeiro quando se ganha, quando tudo corre bem vamos sempre ser os maiores e os mais competentes. O estatuto de primeiro acaba no dia que assina o contrato, a partir daí passa a ser o único e indiscutível...até ao dia.
No futebol como na vida, as teorias são as mesmas, o título de primeiro só fica na ficha, no coração, só fica quem lá está!
No futebol como na vida, as teorias são as mesmas, o título de primeiro só fica na ficha, no coração, só fica quem lá está!
terça-feira, 14 de setembro de 2010
e tu Luís Figo, quanto é que ganhas??
Porque é que já não fico surpreendida com as declarações de Luís Figo?!
Em Portugal ultimamente perdeu-se o pudor para se dizer o que se quer e se entende, possa isso ser mais ou menos ofensivo seja para quem for, ou até para o país em geral. Já se fala de toda a gente, já se dizem nomes displicentemente, como se uma frase fora do contexto ou até sem ele, não pudesse arruinar uma carreira, uma família ou pelo menos uma cabeça.
O futebol é apenas um espelho do que à nossa volta se repete todos os dias. Já se fazem renuncias à Selecção Nacional, e perguntamos nós, onde é que isto já se viu? Onde é que um jogador ainda em plena forma, titular do seu clube, se dá ao luxo, ou deverei dizer desplante, de renunciar envergar o emblema do seu país? Onde é que chegámos? Perdeu-se o respeito e a moral, o valor de uma bandeira, que dizem (e parece que sim), muito custou a conquistar. Perdeu-se o respeito pelo próximo, seja ele culpado, suspeito ou apenas mais um nome para baralhar e tirar algum peso dos ombros de quem o faz.
Em Portugal hoje confunde-se liberdade de expressão com liberdade de cabrão - desculpem o meu léxico vulgar - para fazerem valer as ideias, fracas e sem defesa. Não sendo defensora da exaltação do Passado para justificar a falta de Presente, sou absolutamente fundamentalista no que toca à Gratidão. Eles esquecem-se tantas vezes disso que chega a doer, mas isto sou eu a dizer...
Em Portugal ultimamente perdeu-se o pudor para se dizer o que se quer e se entende, possa isso ser mais ou menos ofensivo seja para quem for, ou até para o país em geral. Já se fala de toda a gente, já se dizem nomes displicentemente, como se uma frase fora do contexto ou até sem ele, não pudesse arruinar uma carreira, uma família ou pelo menos uma cabeça.
O futebol é apenas um espelho do que à nossa volta se repete todos os dias. Já se fazem renuncias à Selecção Nacional, e perguntamos nós, onde é que isto já se viu? Onde é que um jogador ainda em plena forma, titular do seu clube, se dá ao luxo, ou deverei dizer desplante, de renunciar envergar o emblema do seu país? Onde é que chegámos? Perdeu-se o respeito e a moral, o valor de uma bandeira, que dizem (e parece que sim), muito custou a conquistar. Perdeu-se o respeito pelo próximo, seja ele culpado, suspeito ou apenas mais um nome para baralhar e tirar algum peso dos ombros de quem o faz.
Em Portugal hoje confunde-se liberdade de expressão com liberdade de cabrão - desculpem o meu léxico vulgar - para fazerem valer as ideias, fracas e sem defesa. Não sendo defensora da exaltação do Passado para justificar a falta de Presente, sou absolutamente fundamentalista no que toca à Gratidão. Eles esquecem-se tantas vezes disso que chega a doer, mas isto sou eu a dizer...
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
5 dólares, a propósito da imagem de Danny Lyon.
photo: Danny Lyon
Chegavas sempre atrasado, mas eu esperava-te à hora marcada como se acreditasse que um dia o destino te empurrasse mais depressa. Nunca empurrou. Dias houve que nem chegaste e eu ali. Ficava até a noite cair, até que alguém me perguntasse se precisava de ajuda, até decorar a silhueta dos prédios à volta. Nunca te esqueci. Os caminhos continuam a ser os mesmos, a dor continua a ser a mesma, o sonho de te ver a descer a rua na tua carrinha castanha já desbotada permanece como se fosse um filme visto e revisto.
Sempre me arranjei melhor para ir ter contigo, fazia questão que me olhasses como olhavas as mulheres que saem nas revistas, belas e com um ar feliz, como se nada na vida delas merecesse um esmorecer de um sorriso. Quando ia ter contigo todos os problemas desapareciam, gostava que visses em mim uma maneira de esquecer o teu dia, sujo e cheio de pessoas que não vão deixar história. Tu eras diferente, tu tinhas-me a mim, tu não precisavas do bar para chegar ao final de cada dia, não precisavas de desabafar com estranhos, tu tinhas-me a mim, e ainda assim quase não falavas. Conheci-te melhor pelo teu silêncio que por qualquer palavra que tenhas dito.
Quando fazíamos amor no banco da tua carrinha nunca tinhas pressa, rias-te, era a única altura em que te via sorrir de uma maneira que parecia verdadeira. Acho que eras tímido, quando ficávamos em minha casa, quase nem falavas depois de fumares, vestias-te e deixavas-me 5 dólares em cima da mesa para ir de táxi para o trabalho nesse dia.
Tenho medo de te esquecer, medo que se apague o que senti por ti, o que ainda sinto. Medo que outro homem me roube a alma e o corpo, e limpe os vestígios de ti para sempre. Tenho medo de poder ser feliz. Tenho medo porque nunca o fui.
Eu era tua, tu nunca foste meu.
Chegavas sempre atrasado, mas eu esperava-te à hora marcada como se acreditasse que um dia o destino te empurrasse mais depressa. Nunca empurrou. Dias houve que nem chegaste e eu ali. Ficava até a noite cair, até que alguém me perguntasse se precisava de ajuda, até decorar a silhueta dos prédios à volta. Nunca te esqueci. Os caminhos continuam a ser os mesmos, a dor continua a ser a mesma, o sonho de te ver a descer a rua na tua carrinha castanha já desbotada permanece como se fosse um filme visto e revisto.
Sempre me arranjei melhor para ir ter contigo, fazia questão que me olhasses como olhavas as mulheres que saem nas revistas, belas e com um ar feliz, como se nada na vida delas merecesse um esmorecer de um sorriso. Quando ia ter contigo todos os problemas desapareciam, gostava que visses em mim uma maneira de esquecer o teu dia, sujo e cheio de pessoas que não vão deixar história. Tu eras diferente, tu tinhas-me a mim, tu não precisavas do bar para chegar ao final de cada dia, não precisavas de desabafar com estranhos, tu tinhas-me a mim, e ainda assim quase não falavas. Conheci-te melhor pelo teu silêncio que por qualquer palavra que tenhas dito.
Quando fazíamos amor no banco da tua carrinha nunca tinhas pressa, rias-te, era a única altura em que te via sorrir de uma maneira que parecia verdadeira. Acho que eras tímido, quando ficávamos em minha casa, quase nem falavas depois de fumares, vestias-te e deixavas-me 5 dólares em cima da mesa para ir de táxi para o trabalho nesse dia.
Tenho medo de te esquecer, medo que se apague o que senti por ti, o que ainda sinto. Medo que outro homem me roube a alma e o corpo, e limpe os vestígios de ti para sempre. Tenho medo de poder ser feliz. Tenho medo porque nunca o fui.
Eu era tua, tu nunca foste meu.
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