segunda-feira, 26 de maio de 2008

No país dos rótulos

Em Portugal para se existir tem de se ter um rótulo, por mais humilde que seja. Não é à toa que existe um provérbio “chamar os bois pelos nomes”, porque tudo tem de ter um nome. Num país onde ninguém lê os livros de instruções, é natural que se preocupem mais com o nome do que com a forma de usar.
A relação entre duas pessoas, principalmente, tem de ser uma coisa bem definida.
Entre duas pessoas, sejam elas de que géneros forem, há sempre um rótulo, que eventualmente pode ir mudando. É-se Conhecido, depois passa-se a Amigo, depois grande Amigo, depois dos melhores Amigos, se for o caso, Namorado, Noivo, Marido, Ex-marido, Defunto. Para que não haja dúvida alguma, todos estes estágios têm de ser declarados publicamente e em alguns casos registados oficialmente, caso contrário, é como se não existissem.
Será que não se pode Só estar porque se está bem, e não ter de tomar decisões quanto ao nome que ”vamos chamar a isto”? Será que só porque não tem nome, a relação não pode ser séria e intensa? Só porque não “assumimos isto”, as pessoas não vão acreditar, não nos vamos envolver da mesma maneira? Não vamos sentir o que tivermos de sentir?
Ou por outro lado, vamos ficar mais responsabilizados, vamos ser mais respeitados, ou até mais amados, só porque isto tem um nome e se chama namoro, noivado (aqui a diferença está no anel), ou casamento?
Nos tempos que correm, um rótulo ainda pesa assim tanto?
Não se precisa de um rótulo para ser feliz, precisa-se de pessoas, de sentimentos, de emoções e de tudo o que dai advém. Não é preciso um rótulo para as pessoas se darem, dão-se porque sentem, seja dar uma flor, o coração ou o corpo.
Não é o rótulo que faz suspirar incessantemente ou atravessar a cidade para enxugar umas lágrimas. É o que está por dentro que nos move.
Bom mesmo é sentir, que se lixe o nome que se dá à coisa!

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