Quando não há palavras há um lugar vazio que a distância não ocupa. Há uma dor que se vai amolgando com o tempo, que se desvanece, mas que marca, que turva olhar e não deixa ver mais além. Quando não há palavras o tempo parece mais longo, tem paragens, teima em arrastar-se ao longo do caminho.
O espaço que deixámos vazio para as palavras se cruzarem vai criando raízes, ervas daninhas que não se deixam arrancar. E é assim, devagar, como crescem as ervas que não são regadas, que se vai preenchendo até deixar de ser um lugar vazio, sem vida. Passará a ser terra cultivada à força, só para não cairmos ao tentar saltar, altura em que voar resolveria quase tudo. No ar não existem “pedras no caminho”, rasteiras ou degraus mais disfarçados. Não há trânsito nem insultos descabidos, não há falta de estacionamento e podemos encostar em qualquer lugar.
A terra parece, por vezes, ocupada demais, viva demais, congestionada demais, movimentada demais. O ar tem mais espaço e é por ele que tantas vezes voam as palavras que não são ditas, que não são escritas.
As palavras voam, e algumas vezes não chegam a descer, é vulgar por isso, apanharmos ideias assim, no ar. E quando andamos com a “cabeça no ar” estaremos provavelmente a tentar vermo-nos livre delas...ou à procura delas.
sexta-feira, 29 de maio de 2009
terça-feira, 26 de maio de 2009
onde dormem os sonhos?
Onde ficam os meus sonhos quando acordo de manhã? Quem os guarda até eu voltar a deitar-me, até voltar a chamar por eles? Os sonhos devem ser uma espécie de filhos independentes que durante o dia vão à vida deles e voltam já à noitinha, naquela última hora em que estamos sentados no sofá a olhar para ontem. Aí chegam eles, fresquinhos, como se não tivessem andado a palmilhar o dia inteiro, como se não ficassem hora a fio a olhar um computador e a desejar a hora de chegar a casa. Chegam para se deitarem connosco, para ocuparem algum lugar vazio, o lugar da companhia que não está, não chega, não o é.
Aninham-se em nós como se nunca tivessem saído dali, como se fosse um episódio com continuação, numa história que não acaba nunca, só mudam as personagens e os cenários.
Onde vão dormir os meus sonhos quando se levantam? Os sonhos esperam sempre que eu me deite, nunca lá estão quando eu chego, nunca adormecem à minha espera. Os sonhos chegam sempre a tempo, mesmo que não tenham relógio. Os sonhos não me deixam antes de acordar, e por vezes até são interrompidos abruptamente sem querer. Eles fazem-me rir, chorar, fazem-me estar onde nunca fui, fazem-me ser o que nunca pensei ser, ter o que nunca tive, ou tive mas não dei atenção, e principalmente, sentir o que não sinto quando estou acordada. Os sonhos mimam-me de tal maneira que chego a pensar que têm braços, que têm coração, que têm cinco sentidos como eu. Mas se têm tudo isto, onde se escondem durante todo o tempo que não estão comigo a fazer-me…sonhar?
Aninham-se em nós como se nunca tivessem saído dali, como se fosse um episódio com continuação, numa história que não acaba nunca, só mudam as personagens e os cenários.
Onde vão dormir os meus sonhos quando se levantam? Os sonhos esperam sempre que eu me deite, nunca lá estão quando eu chego, nunca adormecem à minha espera. Os sonhos chegam sempre a tempo, mesmo que não tenham relógio. Os sonhos não me deixam antes de acordar, e por vezes até são interrompidos abruptamente sem querer. Eles fazem-me rir, chorar, fazem-me estar onde nunca fui, fazem-me ser o que nunca pensei ser, ter o que nunca tive, ou tive mas não dei atenção, e principalmente, sentir o que não sinto quando estou acordada. Os sonhos mimam-me de tal maneira que chego a pensar que têm braços, que têm coração, que têm cinco sentidos como eu. Mas se têm tudo isto, onde se escondem durante todo o tempo que não estão comigo a fazer-me…sonhar?
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