segunda-feira, 13 de junho de 2005

Gastaram-se as palavras.

Hoje gastaram-se as palavras ditas. Hoje dizemos o Adeus que nunca estamos à espera. O poeta ,(Eu)génio das palavras, leva com ele 60 anos das que não conseguiu gastar. As suas palavras, que são as mesmas que as nossas, foram quase sempre expostas numa enorme simplicidade, onde ganhavam uma vida, uma alma, que raras vezes encontramos no seus contemporâneos. A poesia tantas vezes remetida às prateleiras mais altas das livrarias e bibliotecas, encontra em José Fontinhas uma razão para se engalanar.
É tão mais difícil conseguir ser simples desta maneira. É tão mais difícil ver as coisas que os outros vêem e conseguir escrevê-las assim, com uma solenidade arrebatadora, mesmo que banal seja o motivo.
A Eugénio de Andrade não se dedicam palavras, dedicam-se leituras, porque embora elas não se consigam gastar ao falar da sua obra, a maior dedicatória que lhe podemos fazer é ler. Ler as suas obras, os seus poemas, as suas palavras.
O poeta desapareceu hoje, mas na sua escrita permanece quase tudo o que quis dizer. Porque ele próprio escrevia porque precisava de o fazer. E nós precisamos tanto de o ler.

Bem-haja Geninho.

2 comentários:

Anónimo disse...

...e ainda nas palavras do Poeta "... adeus,vou com as aves". E foi com as aves e as suas palavras nunca soarão a gastas e ouvi-las-emos no tempo das cerejas e nas esperas das esquinas e no lume e no azul céu...

Anónimo disse...

As palavras

"São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?"

Eugénio de Andrade

Mais palavras para quê?!...

As palavras de Eugénio serão eternas