sexta-feira, 24 de junho de 2005

“Mudaremos o mundo depois das 3 da manhã”

ao Luís:

Cheguei a casa e peguei no teu livro. Li as indicações musicais de acompanhamento, não resisti ao ver um dos meus preferidos, nem esperei pelo virar da página e o Sr.Mertens já tocava. Só podia ser um bom pronuncio.
Consumi palavra por palavra, verso por verso, tudo por tudo.
Tanto de ti que ali estava. Mesmo com pouco tempo na minha existência, encontrei-te tão bem em tantas das palavras, das angústias, das torturas, da esperança, das promessas relatadas nestas páginas. Encontrei-te porque tu és muito mais do que todas elas, e quando as deixas assim, nas páginas de um livro, elas começam a viver sozinhas e separam-se de ti. Partem. Tu permaneces.Tens tanto ainda para nos dares, nunca poderias ir com elas.
Quero-te encontrar em muitas mais. Parabéns. Bem-haja.



Livro: Mudaremos o mundo depois das 3 da manhã
Autor: Luís Filipe Borges
Editora: Tágide

segunda-feira, 13 de junho de 2005

Gastaram-se as palavras.

Hoje gastaram-se as palavras ditas. Hoje dizemos o Adeus que nunca estamos à espera. O poeta ,(Eu)génio das palavras, leva com ele 60 anos das que não conseguiu gastar. As suas palavras, que são as mesmas que as nossas, foram quase sempre expostas numa enorme simplicidade, onde ganhavam uma vida, uma alma, que raras vezes encontramos no seus contemporâneos. A poesia tantas vezes remetida às prateleiras mais altas das livrarias e bibliotecas, encontra em José Fontinhas uma razão para se engalanar.
É tão mais difícil conseguir ser simples desta maneira. É tão mais difícil ver as coisas que os outros vêem e conseguir escrevê-las assim, com uma solenidade arrebatadora, mesmo que banal seja o motivo.
A Eugénio de Andrade não se dedicam palavras, dedicam-se leituras, porque embora elas não se consigam gastar ao falar da sua obra, a maior dedicatória que lhe podemos fazer é ler. Ler as suas obras, os seus poemas, as suas palavras.
O poeta desapareceu hoje, mas na sua escrita permanece quase tudo o que quis dizer. Porque ele próprio escrevia porque precisava de o fazer. E nós precisamos tanto de o ler.

Bem-haja Geninho.