não somos nós que nos esquecemos com o tempo, é o tempo que nos vai esquecendo, é o tempo que deixa de nos perseguir com bocadinhos de memória que já queríamos ter deixado há muitas voltas dos ponteiros do relógio. por menos tempo que se tenha, sobra sempre tempo para lembrar o que se quer esquecer. a memória tem um bloco de notas onde há sempre espaço para mais um abraço que ficou por dar, um beijo que se perdeu porque já ia atrasada, uns dedos que deslizam pelo braço abaixo e se encaixam na mão que já os conhece de cor. ia-me despedir só por um tempo, mas o tempo não era o mesmo que o meu, aquele bloco tinha um esboço de um noite mal dormida e de um mimo enganador, ou não. perdemo-nos no tempo e em demasiadas palavras arriscadas, insinuantes e tantas vezes dúbias. histórias de que só os olhos sabem falar. a distância não corrige a pontuação, as palavras têm intenções que só um puxão delicado pela cintura sabe dar.
não há vagas num coração coberto de pele ainda tatuada pela memória de um toque.
não há vagas num abraço ocupado com o sonho de um enredo diferente. o regresso à primeira página do bloco de notas, onde tudo parecia fazer sentido, onde as letras eram desenhadas e o papel era branco, e não amarelecido de memórias desfasadas.
resta-me o tempo sim, que me prende às folhas, às letras penduradas que esperam formar palavras feitas à medida do que nunca foi nosso.
estou suspensa pelas pontas soltas que seguram a distância e a conversa de um olhar.
terça-feira, 20 de setembro de 2011
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