Já tínhamos as bandeiras para pôr à janela, já tínhamos as cervejas no frigorífico à espera da hora certa, já tínhamos os cachecóis, as camisolas, tudo a postos. Tínhamos principalmente uma equipa, que em campo nos iria levar ao rubro.
O Mundial 2006 começava e Portugal voltava a viver um pouco do que viu em 2004. Peregrinações ao Marquês de Pombal, carros a apitar pelas ruas onde aparentemente nada acontecia, reuniões em cafés, restaurantes e afins, para mais hora e meia de futebol em duas ou três horas de festa.
O futebol é muito mais do que aquilo que assistimos dentro das quatro linhas, é muito mais do que golos e passagens à fase seguinte. Muitos são aqueles que não entendem um fora de jogo posicional, mas todos sabem o que é um golo e quando ele acontece. O golo é provavelmente a forma de expressão mais globalizante.
Não há maus golos, há golos muito bons e golos. Há golos que carregam títulos e golos que valem o que valem. Há golos que trazem melhores contratos e muita tinta em jornais e revistas e golos que apenas aliviam o orgulho.
Neste Mundial, Portugal voltou a viver e a sofrer os golos, as defesas, os quase golos, as faltas cometidas e não cometidas, enfim, em menor quantidade, mas mais concentrado, voltou ao sofrimento do “mata-mata” que em 2004 conheceu desde o segundo jogo.
Agora já éramos maiores, já carregávamos um “vice” que antes não existia, tínhamos uma equipa adulta, um conjunto de grandes jogadores que hoje formam uma grande equipa, termo que até 2004 não conhecíamos. Sempre tivemos bons jogadores, daqueles que jogam no estrangeiro e tudo, mas tínhamos essencialmente artistas, amontoados de ego a jogar pelos contratos, pelo auto sucesso, por e para si próprios. Quem não conseguir encontrar as diferenças até no seus discursos mais simples que levante o braço. Estes jogadores, alguns dos mesmos que um dia jogavam sozinhos, estão e são diferentes, cresceram por todos os lados, fizeram-nos crescer. Luís Figo conseguiu pôr Portugal no mapa de milhares, e porque não dizer milhões, de cidadãos por esse mundo fora, onde nunca tinha chegado este país. Mais do que Eusébio, porque hoje há televisões, internet e jornais por todo o lado, Portugal chegou mais longe com Luís Figo que com qualquer acordo de cooperação económica ou social, porque o futebol ultrapassa qualquer assinatura.
Neste Mundial Portugal comemorou uma derrota, o jogo com a França conseguiu unir um país a um conjunto de rapazes que a cada dia levava mais longe a nossa bandeira. Perdemos com uma grande dose de injustiça, mas também não é de justiça que vive o futebol. Eles marcaram e nós não conseguimos. E se existem vitórias morais, esta não o foi, foi quanto muito uma derrota imoral, de onde saímos com o sentimento de poder ter ido mais longe, de poder ultrapassar esta “maldição” que liga França e meias finais. Não foi desta, mas foi desta que tivemos a certeza que ali podemos voltar, que agora podemos ter sempre lugar entre os melhores dos melhores e que já não somos os pobrezinhos e injustiçados.
Gostávamos de ter um défice mais pequeno, uma economia mais forte, menos desemprego, um sistema de saúde que realmente funcione, uma educação como deve ser, e tudo isto não passa com golos, mas também não é disto que o futebol fala. O futebol fala de emoções, de alegria, de tristeza, sofrimento e euforia, todas aquelas que nos fazem melhores nas outras balizas das nossas vidas. A vida não é só futebol, mas não há nada que una e faça levantar da cadeira tanta gente de uma só vez. Com este nosso futebol o país levantou-se e talvez parte dele se tenha posto a mexer. Voltámos a não trazer a taça, voltámos a chegar quase lá, mas o que vamos ganhando é ouro para os nossos ânimos, e também por isso valeu mesmo a pena.
Hoje temos uma equipa, uma bandeira e um país para esfregar na cara do mundo, e embora o futebol não seja tudo, é sem dúvida uma das melhores montras!
quarta-feira, 19 de julho de 2006
domingo, 9 de julho de 2006
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