segunda-feira, 14 de novembro de 2005

Separar: acto de dividir duas partes

Não há meios caminhos nem atalhos para a separação, não há caminhos fáceis de encontrar nem truques para acelerar o processo. O único método saudável e menos penoso, é o natural. É natural que as pessoas não se possam ver durante algum tempo, é natural que o constrangimento seja mais que muito e que a perda de intimidade incomode, afinal sabiam tudo um do outro. Hoje não chegam sequer a saber se estiverem doentes, com febre ou uma unha encravada que seja. Dantes era tudo diferente e a separação, além da distância, trouxe uma defesa com que se habituaram a conviver.
Já não são as mesmas pessoas, já não são as mesmas com que se habituaram a trocar desejos, projectos e carinho. Uma crítica soa a insulto, uma demonstração de afecto, a pena. Já não se reage instintivamente a um sorriso, a um abraço ou a uma lágrima. Já não se é só por ser, é-se para se parecer.
Ninguém quer sair magoado de uma separação, mas é inevitável. Por deixar ou ser deixado, não importa o motivo. Um é a acção, o outro a reacção, e normalmente, como na vida, é mais fácil reagir, não que custe menos, mas porque não precisa de iniciativa, porque não precisa de tomada de posição, basta estar ali, ouvir, sofrer, chorar, questionar. Deixar alguém de quem se gosta muito, alguém que não se quer perder e deixar de fazer parte da sua vida, é por demais angustiante, doloroso, penoso até. Uma pessoa quer deixar a outra mas não quer deixar de a ter, não por egoísmo ou sentimento de posse exagerado, não por querer ser adorada e desejada para sempre, mas sim por continuar a ter ao seu lado uma pessoa com a qual tem ou criou, tantas afinidades e cumplicidades que não se imagina a desfazer-se delas, ou despedir-se delas como se de companheiros de viagem se tratassem, ou até, ter de encontrá-las de novo numa outra pessoa.
As pessoas hoje já são como são, já não têm dez anos para criarem juntas as suas manias, os seus interesses, as suas ambições a sua personalidade. A vida normalmente encarrega-se de separar naturalmente personalidades que crescem juntas, que se constróem juntas. Como também se encarrega e insiste em juntá-las mais tarde com outras já formadas, e é aqui que se reconhecem as afinidades, não são, nem existem só porque queremos, acontece, normalmente sem escolha ou procura, aparecem ao nosso lado, cruzam-se connosco como se tivessem feito ao nosso lado todo o caminho que já percorremos e nunca as tivéssemos visto.
Agora ficam longe, como se voltassem a não se ver, mesmo caminhando lado a lado e mesmo sabendo um do outro. Agora já não chega ouvir a outra voz para descansar, agora já não chegam palavras para apagar tudo o que foi dito, já não chega estarem juntos e conversarem sobre tudo e sobre nada. Já não chega, já não é, já não serve de nada tudo que aconteceu até aqui.

2 comentários:

Abc Dário disse...

"Keep on trucki'n", lady.
Continua a escrever que o teu ritmo é genial.
Webraços

Ines disse...

Ai credo... gostei tanto!
És simplesmente devastadora... o meu orgulho!
Beijinhos grandes
p.s.- estou a ver se me começo a despachar! ;)